A juventude militante por nossas mãos
Muito em breve, no dia 10 de fevereiro de 2010, o Partido dos Trabalhadores completará 30 anos. Depois de eleger o primeiro trabalhador presidente da República, elegerá este ano a primeira mulher presidenta do Brasil. Ao longo desta trajetória uma certeza permanente, expressa em seu Manifesto de Fundação: de que a liberdade nunca foi nem será dada de presente, será obra de seu próprio esforço coletivo.
Por 30 anos, remamos contra a maré, o que exige constante alerta. Qualquer descuido permite à correnteza retroceder em pouco tempo o caminho percorrido a duras remadas. Por isso se impõe sobre nós a necessidade de avaliar nossas ações constantemente e fazer os balanços, autocríticas e correções que se julgarem necessárias, sobretudo para um partido que valoriza a democracia e a pluralidade ideológica internamente.
Eis a importância de reviver debates e revisitar formulações esquecidas ou supostamente superadas. A história não deve se voltar para o passado, mas para o futuro. Podemos tirar bons ensinamentos da própria trajetória da juventude petista, com vistas à construção de perspectivas melhores.
Uma das afirmações mais contundentes feita pela JPT em seu primeiro Congresso (2008) foi de que a organização e o diálogo com a juventude nunca foi uma prioridade do Partido dos Trabalhadores. Aliás, uma avaliação compartilhada pela geração de 1991, que no I Encontro Nacional de Juventude do PT (ENJPT) dizia não haver prioridade no acompanhamento político e permanecia como desafio fazer as direções partidárias assumir como prioridade a questão da juventude. Para eles, até então, o PT não havia feito uma reflexão séria sobre isso, e menos ainda sobre a juventude brasileira como um todo
Tanto o I Encontro quanto o I Congresso da juventude afirmam que a juventude sempre havia sido identificada como estudantil. A primeira distinção feita nas resoluções do partido é de 1989, no 6º encontro, quando as lutas da juventude eram mencionadas em separado da luta estudantil. No mesmo ano, em agosto, realiza-se o Seminário Nacional da Juventude do PT, preparado para organizar a campanha de juventude Lula Presidente, com um programa que contemplasse as diferentes realidades dos jovens.
Vemos, portanto, que mesmo com o protagonismo do movimento estudantil na organização da juventude petista, os jovens não se limitavam aos debates estudantis. Ainda que fosse apenas no 10º Encontro Nacional, em 1995, que as resoluções partidárias passavam a reconhecer a existência de várias juventudes, na prática o partido debatia as diferentes situações juvenis há mais tempo.
O movimento estudantil, desde a fundação do PT até os dias atuais, sempre foi a frente mais organizada dos jovens petistas. Não é por acaso que o primeiro fórum nacional convocado e organizado pelo PT que reunia prioritariamente jovens, o I Encontro Nacional dos Estudantes do PT (ENEPT), ocorre em 1985, dois anos antes da criação da Secretaria Nacional de Juventude e seis anos antes do I ENJPT. No caso dos secundaristas, sua primeira reunião se deu em 26 e 27 abril de 1988, a 1ª Conversa Nacional de Estudantes Secundaristas do PT. Em novembro de 1991, já haviam ocorrido quatro ENEPT (universitários), dois ENESPT (secundaristas). Obviamente, não podemos nos esquecer da vitória dos petistas no 38º e 39º Congressos da UNE, realizados em 1987 e 1988.
O que mais chama a atenção, porém, não é a semelhança entre as gerações do I Encontro e do I Congresso da JPT quanto à origem estudantil das principais lideranças ou do setor estudantil como o mais organizado da juventude petista. Isso se explica, em parte, pelo próprio destaque do movimento estudantil em relação aos demais movimentos juvenis mesmo entre 1991 e 2008.
O que salta aos olhos, na verdade, é que as resoluções do I e do II Encontros da JPT(1994), assemelham-se com o acúmulo atual da JPT nas questões de juventude. O I Encontro apresenta uma síntese programática e organizativa, semelhante ao I Congresso. O II Encontro centrou fogo na organização e no programa da Campanha Lula Presidente na Juventude , do mesmo modo que o próximo Encontro Nacional da JPT, dias 05 a 07 de fevereiro, em Brasília, dará atenção especial à organização e ao programa da campanha de juventude Dilma Presidente.
Analisando as resoluções de encontros e congressos do PT, percebe-se que a presença da juventude nos textos coincide com períodos de maior organização e formulação dos jovens petistas. A resolução do I Congresso do PT, que avança significativamente em questões que ainda hoje permanecem na pauta da JPT tem por base o acúmulo do I Encontro de Juventude, realizado algumas semanas antes.
Em 1991, as resoluções apontavam para ir às ruas, mostrar a cara em atividades de massa. Falava-se em campanhas de massa como movimento dos jovens petistas e no envolvimento dos jovens petistas e simpatizantes junto à sociedade. Essas e outras questões influenciaram a construção da resolução de concepção e funcionamento da JPT no I Congresso, dezessete anos depois.
Semelhanças entre o passado e o presente não são mera coincidência. Mas afinal, se muitas questões que debatemos hoje a juventude do PT já apresentava respostas há quase vinte anos, o que aconteceu (ou não aconteceu) durante todo esse tempo para que se avançasse tão pouco?
Uma passagem da resolução do I Encontro da JPT tinha como objetivo mostrar à nossa militância de juventude que a mudança desta situação no Partido era possível desde que se dispusessem a assumir com as próprias mãos, de modo coletivo e organizado, a construção do trabalho de juventude. Ou seja, a mesma ideia que consta no Manifesto de Fundação do PT.
Diferente de algumas tradições da esquerda mundial, a JPT não será organizada por iniciativa das direções partidárias, mas por seu movimento próprio, autônomo, como foi a própria construção de um partido de trabalhadores em 1980. Em 1991, os jovens petistas já estavam ciente disso: Nossa postura no interior do partido não pode ser de acomodação ou observação.
A história da Juventude do PT na década de 1990 é de descenso de sua capacidade de organização e mobilização, sobretudo entre 1995 e 2001. Por alguns anos, a Secretaria Nacional de Juventude ficou desarticulada.
O salto histórico realizado pelo I ConJPT é de duas naturezas: de um lado, proporcionou uma mobilização de massas no interior do partido, contribuindo para a articulação dos jovens inclusive nos municípios; de outro, aprofundou o debate organizativo, sobre a concepção e o funcionamento de uma juventude não apenas de massas, mas sobretudo militante. Dois pontos que, combinados, tem potencial para consolidar um novo ciclo duradouro na JPT.
O PT ao longo de sua história teve apoio e participação ativa da maioria da juventude e dos movimentos sociais. Esta relação espontânea fez com que o PT avançasse pouco em sua estrutura partidária de massas, com exceção do vínculo que estabeleceu com a CUT. Passado o ciclo de grandes mobilizações e com o descenso das lutas sociais, o resultado foi o distanciamento da militância nos movimentos em relação ao PT. Na juventude, isso foi sentido com muita intensidade, justamente porque não havia sido construído um instrumento capaz de manter os vínculos sociais e políticos com os jovens brasileiros e conter o avanço do neoliberalismo na juventude.
Em 1991, o I ENJPT afirmava que a juventude petista tinha a tarefa de levar as questões específicas do movimento para o PT e as questões do PT para o movimento. Uma orientação que parte da própria experiência da juventude do PT em sua atuação no movimento estudantil, sobretudo na segunda metade dos anos 1980, quando era dado o inicio da construção dos ENEPTs . Vale dizer que foi o combate à fragmentação do partido no movimento estudantil por meio de muitos e exaustivos debates internos o que possibilitou uma presença partidária do PT na UNE naquele período, sobretudo entre 1986 e 1989. Não por acaso, o I ConJPT reconhecia que os militantes atuavam de maneira fragmentada e, em geral, levando as disputas internas para o seio dos movimentos e orientava a JPT para construir uma intervenção unitária nos movimentos sociais e superar a dispersão dos jovens petistas nos movimentos.
Dos muitos ensinamentos que podem ser extraídos da trajetória da juventude do PT, para o presente momento um deles tem especial importância: dizer que que a juventude nunca foi prioridade política do partido só tem sentido se acompanhada do reconhecimento que tampouco foi prioridade dos próprios jovens petistas, que sempre militaram nos diversos movimentos e setoriais do partido, mas em geral não assumiam a construção da JPT.
O tema do I Congresso da JPT foi A juventude faz a sua história. Sem dúvidas, uma marca já foi deixada na trajetória do PT. Mas o período pós-congressual tem a mesma importância para definir se a juventude, tomando ela mesma a organização da JPT como prioridade política do partido, será capaz de forjar seu próprio instrumento de massas e organizar o petismo entre os jovens.
2010 é um ano propício para intensificar esta construção de 30 anos e inicia com um importante Encontro Nacional da JPT. Só uma organização militante, um programa transformador e muito otimismo na ação vai permitir à JPT sair desta disputa melhor do que entrou e acumular forças para seguir remando por muitos anos. Desta vez, contando com uma organização militante e de massas na juventude.
Façamos nós por nossas mãos, tudo o que a nós nos diz respeito!
Rodrigo Cesar é militante do PT de Guarulhos/SP e da JPT