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Matalauê está me chamando

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Em Matalauê está me chamando, Vera Moll usa uma combinação de pesquisa pessoal e antropológica para organizar um cipoal de situações e emoções que rende muito o que pensar e o que sentir – duas coisas que o gênero gosta de combinar. O título vem da lembrança do discurso de um indígena Matalauê Pataxó na “festa” de comemoração dos 500 anos da chegada da esquadra de Cabral a Porto Seguro: festa para os “brancos”, porque aqueles que se reconhecem como indígenas foram mantidos à distância com o uso de violência e bombas de gás. No 22 de abril de 2000, Matalauê denunciou o genocídio físico e cultural indígena que se repetia, ali, de forma escancaradamente realista, e reafirmou uma corajosa resistência de cinco séculos. É o discurso de Matalauê que chama Vera Moll, uma “branca”, a recontar a história familiar, que inclui o mito da “índia pega no laço”, e a se perguntar: quanto somos indígenas, o que fazemos questão de mostrar e esconder sobre isso, o que podemos – nação e indivíduos – fantasiar sobre o passado e o presente? Dúvidas, receios e fragilidades da romancista-personagem não são omitidos, pelo contrário, contaminam a trama iniciada em 1500, enquanto percebemos os conflitos do presente para diferentes etnias indígenas. Nesse “choque de civilizações” (vai aqui essa expressão delicada, mas só porque o espaço é curto), Moll escolhe seu lado e sua luta. E escolhe de modo ético, mas também poético. Haroldo Ceravolo Sereza   Sobre a autora: Vera Moll é graduada em Filosofia pela Universidade Santa Úrsula, em 1968. Na década de 1980, a autora dedicou-se à literatura estreando com o livro Teias Aranha (Edições Antares, 1981). Publicou também os romances Um homem delicado (Editora UAPÊ, 1996), Mulher de Bandido (Editora UAPÊ, 1998) e O vestido vermelho (FCC edições, 2010).

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