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A Casa Grande Iluminada: trajetórias negras e a reconfiguração do imaginário racial no Big Brother Brasil

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Desde sua estreia em 2002, o Big Brother Brasil (BBB) tem funcionado como um microcosmo da sociedade brasileira, um espaço onde as tensões e contradições raciais se manifestam de forma crua e explícita. A participação de pessoas negras, embora significativa, tem sido marcada por desafios persistentes, relacionados à representatividade e ao tratamento dentro do jogo. Este ensaio busca analisar a trajetória negra no BBB, desde os primeiros anos até as edições mais recentes, destacando como o programa tem refletido e, por vezes, influenciado o debate sobre racismo e diversidade no Brasil.


As Primeiras Entradas: Marcos e Limitações (2002-2009)

Nos primeiros anos do BBB, a presença negra era tímida, muitas vezes restrita a um ou dois participantes por edição. No entanto, esses pioneiros deixaram marcas indeléveis. Jeferson de Oliveira, vencedor do BBB2 (2002), abriu caminho como o primeiro campeão negro do programa, um marco simbólico em um país onde a representatividade negra na mídia ainda era incipiente. Solange Vega (BBB4), com sua performance icônica de "We Are The World", e Mara Viana (BBB6), que superou adversidades para vencer sua edição, também se destacaram.

No entanto, essa representatividade inicial era limitada. Como aponta Stuart Hall, "a representação é um processo complexo que envolve a construção de significado através da linguagem e da cultura" (Hall, 1997). Nos primeiros anos do BBB, a linguagem e a cultura do programa ainda reproduziam estereótipos raciais, confinando participantes negros a papéis limitados.


A Década de 2010: Ampliação e Contradições

A partir da década de 2010, a diversidade racial no BBB começou a aumentar, embora de forma gradual. Participantes como Nasser Rodrigues (BBB13) e Ieda Wobeto (BBB17) alcançaram a final, enquanto Gleici Damasceno (BBB18) fez história ao se tornar a primeira mulher negra a vencer o programa. Sua vitória, ecoando as palavras de Angela Davis, "não é apenas uma questão de representação, mas de transformação" (Davis, 1989).

No entanto, essa ampliação da representatividade não significou o fim dos desafios. Participantes negros continuaram a enfrentar exclusão social e dificuldades de aceitação pelo público, revelando a persistência do racismo estrutural. Como argumenta Sueli Carneiro, "o racismo é uma tecnologia de poder que se manifesta de forma sutil e explícita, moldando as relações sociais e as oportunidades de vida" (Carneiro, 2003).


A Virada dos Anos 2020: Debates e Reconfigurações

A década de 2020 marcou um ponto de inflexão na discussão racial dentro do BBB. A participação de Babu Santana no BBB20, embora não coroada com a vitória, despertou um amplo debate sobre racismo e masculinidade negra. O BBB21, com um elenco mais diverso, aprofundou esses debates, especialmente com a saída de Lucas Penteado e a rejeição recorde de Karol Conká. Camilla de Lucas, por outro lado, conquistou o público e chegou à final.

As edições seguintes, BBB22 e BBB23, continuaram a trazer personagens negros fortes, como Douglas Silva, Aline Wirley e Sarah Aline, consolidando a relevância da presença negra no jogo. Como afirma Achille Mbembe, "a racialização é um processo contínuo de produção de diferença, que se manifesta em todas as áreas da vida social" (Mbembe, 2003). No BBB, a racialização se manifesta na forma como os participantes são percebidos, julgados e representados.


O Impacto Duradouro: Reflexões e Transformações

A trajetória negra no BBB tem sido marcada por vitórias e desafios, reflexos das tensões raciais que permeiam a sociedade brasileira. A vitória de Thelma Assis no BBB20 e o crescente engajamento do público com a representatividade negra no programa indicam uma mudança de percepção.

No entanto, o BBB continua sendo um espaço de disputa, onde as narrativas raciais são constantemente contestadas e reconfiguradas. Como argumenta Stuart Hall, "a cultura é um campo de batalha simbólico, onde diferentes grupos lutam pelo poder de definir o significado" (Hall, 1997). No BBB, essa batalha se manifesta na forma como os participantes negros performam suas identidades, desafiam estereótipos e resistem ao racismo.

A participação negra no BBB, portanto, transcende o mero entretenimento. Ela se torna um espelho da sociedade brasileira, revelando suas contradições e seus potenciais de transformação. Ao acompanhar as trajetórias dos participantes negros, somos convidados a refletir sobre nossas próprias concepções de raça, identidade e igualdade.


Referências:

  • Carneiro, S. (2003). Mulher negra: política identitária e busca por equidade. Estudos feministas, 11(2), 2003.

  • Davis, A. Y. (1981). Women, race & class. Random House.

  • Fanon, F. (1952). Peau noire, masques blancs. Éditions du Seuil.

  • Hall, S. (1997). A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A.


Anexo: Tabela com os participantes negros e negras do BBB 

Edição

Participantes Masculinos:

Participantes Femininas:

BBB1 (2002)

  • André Augusto: 5º lugar

  • Caetano Zonaro: 8º lugar

XXXXX

BBB2 (2002)

  • Jeferson de Oliveira: 1º lugar (vencedor)

XXXXX

BBB3 (2003)

  • XXXXX

  • Juliana Alves: 12º lugar

BBB4 (2004)

  • Paulo André: 4º lugar

  • Solange Vega: 7º lugar

BBB5 (2005)

  • XXXXX

  • XXXXX

BBB6 (2006)

  • Rafael Valente: 3º lugar

  • Agustinho Mendonça: 4º lugar

  • Gustavo Borges: 5º lugar

  • Iran Gomes: 6º lugar

  • Mara Viana: 1º lugar (vencedora)

  • Roberta Brasil: 12º lugar

  • Léa Ferreira: 10º lugar

  • Inês Gomes: 9º lugar

  • Thaís Macedo: 8º lugar

BBB7 (2007)

XXXXX

XXXXX

BBB8 (2008)

XXXXX

XXXXX

BBB9 (2009)

XXXXX

XXXXX

BBB10 (2010)

  • Uillan Carvalho: 15º lugar

XXXXX

BBB11 (2011)

  • Lucival França: 14º lugar

  • Jaqueline Faria: 10º lugar

  • Ariadna Arantes: 17º lugar

BBB12 (2012)

  • XXXXX

  • Jakeline Leal: 15º lugar

BBB13 (2013)

  • Nasser Rodrigues: 2º lugar

  • Aslan Cabral: 15º lugar

  • Marien Carretero: 13º lugar

BBB14 (2014)

  • Valter Araújo (Slim): 5º lugar

  • Aline Dahlen: 18º lugar

BBB15 (2015)

XXXXX

XXXXX

BBB16 (2016)

XXXXX

XXXXX

BBB17 (2017)

  • Rômulo Neves: 7º lugar

  • Luiz Felipe Bari: 15º lugar

  • Gabriela Flor: 17º lugar

  • Roberta Freitas: 13º lugar

  • Ieda Wobeto: 3º lugar

  • Vivian Amorim: 2º lugar

BBB18 (2018)

  • Viegas de Carvalho: 10º lugar

  • Gleici Damasceno: 1º lugar (vencedora)

BBB19 (2019)

  • Rodrigo França: 11º lugar

  • Danrley Ferreira: 9º lugar

  • Gabriela Hebling: 6º lugar

  • Rízia Cerqueira: 5º lugar

BBB20 (2020)

  • Babu Santana: 4º lugar

  • Thelma Assis: 1º lugar (vencedora)

  • Flayslane Raiane: 7º lugar

BBB21 (2021)

  • João Luiz Pedrosa: 10º lugar

  • Lucas Penteado: desistiu na 3ª semana

  • Nego Di: 17º lugar

  • Camilla de Lucas: 2º lugar

  • Karol Conká: 15º lugar

  • Lumena Aleluia: 14º lugar

BBB22 (2022)

  • Douglas Silva: 3º lugar

  • Paulo André Camilo: 2º lugar

  • Jessilane Alves: 4º lugar

  • Natália Deodato: 7º lugar

BBB23 (2023)

  • Cezar Black: 8º lugar

  • Gabriel Santana: 9º lugar

  • Ricardo Camargo (Alface): 4º lugar

  • Fred Nicácio: 12º lugar

  • Aline Wirley: 2º lugar

  • Marvvila: 11º lugar

  • Sarah Aline: 5º lugar

  • Tina Calamba: 20º lugar

  • Domitila Barros: 6º lugar

BBB24 (2024)

  • Davi Brito: 1º lugar (vencedor)

  • Lucas Henrique: 11º lugar

  • Juninho: 14º lugar

  • Lucas Luigi: 19º lugar

  • Lucas Pizane: 22º lugar

  • Marcus Vinicius: 13º lugar

  • Maycon: 26º lugar

  • Rodriguinho: 12º lugar

  • Raquele: 5º lugar

  • Thalyta: 25º lugar

  • Giovanna Pitel: 7º lugar

  • Leidy Elin: 14º lugar

BBB25 (2025)

  • Diogo Santos de Almeida

  • Guilherme Albuquerque Vilar Lira

  • João Gabriel Siqueira Castro

  • João Pedro Siqueira Castro

  • Marcus Vinícius do Nascimento Santos

  • Camilla Maia da Costa Figueiredo

  • Eva Pacheco de Oliveira

  • Joselma dos Santos Silva

  • Renata Saldanha de Souza Peixoto

  • Thamiris Maia da Costa Figueiredo

  • Vilma Maria Santos de Almeida Nascimento

Observação: as posições podem variar conforme a fonte consultada, e a identificação racial é baseada em informações públicas disponíveis.


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