
A história do Brasil é marcada por profundas desigualdades sociais e raciais, enraizadas em um legado colonial e perpetuadas por décadas de opressão. Nesse contexto de injustiça, surge a figura de José Geraldo da Costa, mais conhecido como Mestre Geraldinho, um ativista comunista que dedica sua vida à luta pela justiça social e racial. Sua trajetória exemplifica a importância da interseccionalidade na compreensão e enfrentamento das múltiplas formas de opressão que afetam as comunidades marginalizadas.
Mestre Geraldinho herdou de seus pais a tradição do jongo, uma expressão cultural afro-brasileira de dança, música e canto, que se tornou a ferramenta central de seu ativismo. O jongo, mais do que uma simples manifestação cultural, é um espaço de resistência e afirmação da identidade negra, um meio de preservar e transmitir os saberes ancestrais em meio à violência simbólica imposta pelo Estado e pela sociedade dominante.
A atuação de Mestre Geraldinho se destaca especialmente durante o período da ditadura empresarial-militar no Brasil, entre 1964 e 1985. Nesse contexto de repressão e segregação, ele unificou as lutas de classe e raça, demonstrando a natureza interseccional de sua militância. Enquanto atuava no Partido Comunista Brasileiro (PCB), Mestre Geraldinho lutava contra a exploração da classe trabalhadora, mas também denunciava o racismo estrutural e a violência perpetrada pelo Estado contra a população negra.
Inspirado pelas ideias do filósofo e psiquiatra anticolonialista Frantz Fanon, Mestre Geraldinho compreendeu a importância de articular as diferentes formas de opressão em sua luta pela transformação social. Fanon enfatizava a necessidade de uma revolução que abrangesse tanto a esfera econômica quanto a esfera cultural, reconhecendo que a violência simbólica da linguagem e a dominação colonial são tão prejudiciais quanto a exploração material.
Nesse sentido, o jongo desempenhou um papel central na atuação de Mestre Geraldinho, não apenas como expressão cultural, mas como ferramenta de resistência e afirmação da identidade negra. Ao manter viva essa tradição em Volta Redonda–RJ, ele não apenas preserva um legado ancestral, mas também cria um espaço de fortalecimento comunitário e conscientização política.
Ao longo de sua trajetória, Mestre Geraldinho tem demonstrado que a luta pela justiça social e racial é indissociável. Sua militância interseccional, que entrelaça as questões de classe e raça, serve como um modelo inspirador para outras formas de ativismo, mostrando que a transformação social deve considerar a complexidade das relações de poder e a interação entre diferentes sistemas de opressão.
Mestre Geraldinho continua a inspirar e mobilizar as comunidades em Volta Redonda e além. Sua dedicação ao jongo e sua obstinação em unir as lutas de classe e raça representam um legado fundamental para a compreensão e o enfrentamento das desigualdades que persistem no Brasil contemporâneo. Ao honrar sua história e continuar sua luta, podemos avançar rumo a uma sociedade mais justa e equitativa, onde a diversidade cultural seja valorizada e a justiça social se torne uma realidade tangível.
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