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Nasce a Revista Amefricana: da Curadoria à Soberania Epistêmica

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A Livraria Pandora sempre entendeu que um livro não encerra uma jornada; ele inaugura uma travessia. Ao longo de nossa trajetória, atuamos como curadores de pensamento, selecionando obras que alimentam o espírito crítico, tensionam as estruturas e abrem fendas no senso comum.


Mas o tempo histórico que atravessamos nos convoca a algo maior. Não basta circular o que já foi pensado. É preciso participar ativamente da gestação de novos paradigmas, novas linguagens e novas formas de existir e resistir.


Chegamos, assim, a um ponto de inflexão. É hora de deixar a posição confortável de consumidores de teoria e assumir a responsabilidade de produzir conhecimento desde os lugares que habitamos — geográficos, raciais, epistemológicos e afetivos.


Se, até aqui, a Pandora foi uma estante generosa, agora ela se torna tribuna. Com profundo compromisso ético e alegria política, anunciamos o nascimento de nosso braço acadêmico e científico: a Revista Amefricana.


Por que "Amefricana"? Um Batismo Político

“Amefricana” não é apenas um nome. É um gesto. É um deslocamento epistêmico inspirado na potência intelectual de Lélia Gonzalez, que ousou reconfigurar a cartografia das ideias ao nomear nossa condição histórico-cultural como Améfrica Ladina.


Ao adotarmos essa identidade, recusamos o enquadramento da “América Latina” enquanto categoria que privilegia a continuidade colonial europeia e desconsidera os eixos estruturantes da racialidade que formaram este território. Assumimo-nos, portanto, como fruto das encruzilhadas entre a diáspora africana, os povos originários e as tensões do Sul Global.


A Revista Amefricana nasce para ser um espaço onde saberes negros, indígenas, populares e periféricos não precisem pedir licença para existir. Aqui, o Pretuguês não é exceção, mas horizonte. Nosso compromisso é com a soberania epistêmica.


Sociologia, Desenvolvimento e Práxis: Rompendo a Dicotomia

O campo editorial científico vive, há décadas, preso a uma falsa dicotomia: de um lado, o academicismo hermético, isolado em sua torre de marfim; de outro, o tecnicismo da gestão pública sem imaginação política.


A Revista Amefricana nasce para romper essa clivagem. Nosso subtítulo — Sociologia, Desenvolvimento e Práxis Antirracista — expressa nossa metodologia de trabalho. Buscamos uma síntese dialética entre rigor teórico e ação transformadora.


Queremos publicar pesquisas que articulem a Teoria Crítica (capaz de revelar as estruturas invisíveis) com a Gestão Pública e o Direito (campos que materializam as disputas por reparação). Propomos uma revista onde se discuta o orçamento público e o racismo estrutural na mesma página; onde se investigue o encarceramento em massa à luz das teorias decoloniais.


Buscamos uma ciência encarnada, insurgente e útil às urgências do nosso tempo.


Um Quilombo Intelectual de Acesso Aberto

Vivemos a era da mercantilização do saber, onde o conhecimento é trancado atrás de muros de pagamento (paywalls). A Revista Amefricana nasce como um ato de desobediência epistêmica frente a esse modelo.


Nosso compromisso é radical: seremos um periódico de fluxo contínuo, totalmente digital e 100% Open Access.


Acreditamos na Justiça Cognitiva. O acesso ao conhecimento é um direito, não um privilégio. Queremos ser um quilombo intelectual, onde o conhecimento circula livre, seguro e fecundo, incentivando pesquisas de autores emergentes, negros, periféricos e de grupos historicamente excluídos do cânone editorial.


Nosso Norte é o Sul

Neste momento fundacional, estamos constituindo nosso Conselho Editorial, convidando intelectuais cuja trajetória combina excelência acadêmica e sensibilidade decolonial. Abrimos a chamada para o cadastro no nosso Banco de Pareceristas e, em breve, lançaremos nossa primeira Chamada de Artigos.


Inspirados no gesto cartográfico de Joaquín Torres García, que desenhou a América de cabeça para baixo para revelar seus centros deslocados, afirmamos: nosso Norte é o Sul.


Se até aqui a Livraria Pandora foi guardiã de livros, agora ela se afirma como editora de futuros possíveis.


Convidamos você a atravessar esta porta conosco.


Bem-vindos à Revista Amefricana.

Aqui, a teoria se compromete com a vida — e a vida exige ação.

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